quinta-feira, 17 de setembro de 2015

esu yangui

exu yangui
ESU OTA ORISA
Esu a pedra fundamental do Orisa
ESU OFI OKUTA DIPO IO
Esu transforma o sal em pedra
1. "O PRINCIPIO ERA A PEDRA"
Em todos os momentos da vida dos afro-descendentes que cultuam Orisa, a terra é o elemento mais importante a ser reverenciado e, em conseqüência disso, a pedra, o fruto da condensação da terra, a desagregação particulada e formadora do microcosmo Yoruba.
Essa singularidade pode ser vista na gênese Yoruba, amplamente documentada, por diversos autores.
Olodunmarê após um tempo imemorial de inércia resolve criar o mundo, e sua primeira criação é a pedra primordial chamada por ELE de Esu Yangi e, posteriormente, de Esu Obasin, cultuado até os dias de hoje em Ile Ifé.
Pode-se dizer que sem pedra "Ota" não há Orisa.
KOSI OKUTA
KOSI ORISA
"Sem pedra
Sem Orisa"
KOSI ESU
KOSI ORISA
"Sem Esu
Sem Orisa"
Todo Orisa tem que, obrigatoriamente, ser assentado em uma pedra ou em algum material que dela tenha vindo; exemplo: o ferro em que se assenta Ogun é a transmutação da pedra, transformada em ferro por intermédio do fogo. Dessa forma pode-se dizer que Ogun é assentado na pedra.
Outro aspecto interessante é que o corpo humano é composto de vários elementos, e entre eles um dos mais importantes é o barro modelado por Ajala, onde, posteriormente, é inserido por Obatala, o Bara, o ESU do movimento.
Outro aspecto de grande importância relacionado à terra é o Ikomojade (imposição de nome ou batismo). Nele o pai pega a criança e coloca o pé dela sobre a terra fofa, especialmente preparada para o momento, recitando o seguinte verso de Ifa:
Yoruba
ILÉ
A O GBE OMO, AO FI ESE OMO NAA TE ILE,
A O WA WURE BAYI PE,
ILE REE O,
ILE OGERE,
ILE NI A NTE KI A TO TE OMI,
A KI NBINU ILE KI A MAA TE,
BI O BA NRIN NILE KI OMO ARAYE MA BINU RE,
A KI NBALE SOWO KI A PADANU,
GBOGBO OHUN TI O BA DAWOLE LORI,
10.ILE AYE YI,
11.KO NI PADANU.
Português
Terra
Os pais pegam a criança e colocam o pé dela sobre a terra, iniciando a recitação. Eles chamam o nome da criança e falam:
1. (Nome da criança) Aqui está a terra,
2. A terra que está espalhada pelo universo,
3. É nela que se pisa primeiramente,
4. Antes de se pisar na água.
5. Ninguém que tenha ódio da terra,
6. Priva-se de pisar nela.
7. Quando você anda sobre a terra,
8. Os seres humanos não terão ódio de ti.
9. Todos que fazem negócios com a terra lucram com ela,
10. Tudo que você se propor a fazer na sua vida,
11. Não será em vão, você lucrara na vida.
Portanto, é muito claro que Esu foi criado por OLODUNMARÊ, da matéria primordial e divina da qual, posteriormente, ELE fez todos os Orisa. A mesma matéria que daria forma à toda existência divina, assim como toda a humanidade que, um dia, Ikú "a Morte" devolverá à esta lama primordial.
Assim, Yangi é o primeiro ser criado da existência e passa a ser o símbolo primal dos elementos criados.
Yangi é conhecido como "Esu Agba", o Ancestral primordial, e seus assentamentos mais antigos e tradicionais eram simples pedras de laterita vermelha, colocadas no chão, onde eram feitas suas oferendas e sacrifícios.
Em alguns lugares, como a Orita Meta ou a Encruzilhada de Três caminhos, a laterita vermelha está cercada por 7, 14 ou 21 pedaços de ferro enferrujados.
Na cidade de Ile Ife, pode-se ver o assentamento de Esu Yangi como o descrito acima.
Para se chegar a casa de OBATALA, entra-se em uma rua que vai exatamente até a entrada, e acerca de 10 metros antes da entrada, a rua principal abre-se em duas outras ruas laterais, formando um . No meio do vértice do está a casa de OBATALA, e na ponta do vértice o assentamento de Yangi, uma montículo de cimento armado com uma laterita fincada no alto. **
Yangi é por excelência o símbolo da existência diferenciada e, em conseqüência disso, o elemento dinâmico que leva à propulsão, à mobilização, à transformação e ao crescimento.
Ele é o principio dinâmico de tudo que existe e do que virá existir.
2. OS MÚLTIPLOS NOMES E FUNÇÕES DE ESU
Um mito relata como, em função de seu poder, Esu se descontrola, e começa a devorar toda a preexistência, sendo então obrigado por Orunmila, após uma longa perseguição, a vomitar tudo de volta.
Tendo sido cortado em milhares de pedaços, transforma-se no + 1, ou em 1 multiplicado pelo infinito. Neste caso, ele é Esu Okoto, o Caracol agulha, cuja estrutura óssea espiralada parte de um ponto único, abrindo-se para o infinito, e nos dá a idéia do crescimento, da evolução e da multiplicação, tendo-se tornado o símbolo da restituição e da recomposição, tornando-se Oba Baba Esu, Esu agbo, o Rei e o Pai de todos os Esu, gerados por seus pedaços.
Durante muitos anos conviveu-se com uma pretensa superioridade cultural, racial, religiosa na África e na região dos Yoruba que provocou guerras étnicas, fato que repercute ainda nos dias de hoje.
A suposta ação evangelizadora desarticulou sofisticadas estruturas religiosas, imprimindo aspectos negativos e demoníacos à imagem de Esu que, ainda hoje, habitam o universo religioso e pratico dos mais renomados Baba/Iya.
A perda dos valores primais africanos foi causada, sobretudo, pela escravidão, e posteriormente pela miscigenação com as seitas espíritas cristãs, permitindo assim que os mais sérios seguidores do Orisa ressaltem os aspectos negativos dos demônios, referindo-se a Esu como:
Exu Lucifer, Exu Tranca Rua das Almas, Exu sete poeiras do inferno, Exu Rei das sete encruzilhadas, ou mudam seu sexo, Exu Pomba Gira ou Exu Maria Padilha.
Os nomes e atributos deste importante Orisa do panteão Yoruba não permitem interpretações errôneas como as perpetuadas pela inércia e ignorância de pseudos experts em cultura Yoruba.
Nomes
Atributos
ESU YANGI
O primeiro da criação, a laterita vermelha
ESU AGBA
Aquele que é o ancestral
ESU IGBA KETA
O dono da cabaça, o Igba Odu
ESU OKOTO
O dono da evolução, o caracol.
ESU OBASIN
O pai de todos os Esu
ESU ODARA
O Esu da felicidade
ESU OJISE EBO
O Esu que leva as mensagens ao Orisa
ESU ELERU
O Esu que leva o carrego dos iniciados
ESU ENUGBARIJO
O Esu que trás a prosperidade
ESU ELEGBARA
O Esu que detém o poder da transmutação
ESU BARA
O Esu dono do movimento do corpo humano
ESU OLONAN
O dono de todos os caminhos
ESU OLOBÉ
O dono da faca ritual
ESU ELEBÓ
O Esu que recebe as oferendas
ESU ODUSO
O Esu que vigia os oráculos
ESU ELEPO
O Esu do azeite de dendê
ESU INA
O Esu do fogo (saudado no Ipade)
Poderia-se fazer uma lista imensa dos nomes de Esu ancestrais cultuados no Brasil e África, mas esse exercício é desnecessário no momento.
O mais importante é destacar as funções desses Esu ancestrais nos rituais:
Esu Yangi:
É o princípio de tudo, a própria memória de Olodunmarê, seu criador.
Esu Agba ou Esu Agbo:
É o nome que mostra sua ancianidade; ele é o mais velho e, por conseqüência, o pai que é retratado no mito em que Orunmila o persegue através dos nove Orun.
Esu igba keta
É o terceiro aspecto mais importante de Esu que está ligado ao número três, a terceira cabaça onde ele é representado pela figura de barro junto aos elementos da criação.
Esu ikorita meta:
É ligado ao encontro dos caminhos ou a encruzilhada; o encontro de três ruas ( Y ).
Esu Okoto:
É o representado pelo caracol agulha, mostra a evolução de tudo que existe sobre a terra,
E está ligado ao Orisa Aje Saluga, o antigo Orisa da riqueza dos Yoruba.
Esu Obasin:
É por este nome é conhecido e cultuado em Ile Ifé.
Esu Odara:
É o que, se satisfeito através do sacrificio, traz a felicidade ao sacrificante.
Esu Ojisé ébó:
É ele que observa todos os sacrifícios rituais e recomenda sua aceitação, levando as súplicas a Olodunmarê.
Esu Eleru:
É o que leva os carregos dos iniciados (Erupin)
Esu Enugbarijo:
É o que devolve a todos o sacrifício em forma de benefícios.
Esu Elegbara:
É o todo poderoso que transforma o mal em bem, cujo poder reside na transformação das coisas.
Esu Bara:
É um dos mais importantes aspectos de Esu, pois ele é o Esu do movimento do corpo humano, infundido no corpo pré-humano, ainda no Orun por Obatala, sendo "assentado" no momento da iniciação, junto com o Ori e o Orisa individual.
Esu Lonã:
É o senhor de todos os caminhos do mundo.
Esu Olobé:
É dono do obé (faca), tem que reverenciado ao começar todos os sacrifícios, onde a faca é necessária.
Esu Élébó:
É o carregador de todos os Ébo.
Esu Odusô ou Olodu:
É ele que tem seu rosto retratado no Opon Ifa, e vigia o Babalawo para que este não minta; é o que vigia os oráculos (Opélé-Ikin-Erindilogun)
Esu Elepo:
É ele que recebe o sacrifício do azeite de dendê.
Esu Inã:
É um dos aspectos mais importantes deste Esu primordial, é presidir o Ipade, sendo o dono do fogo. É a Esu Inã que os Babalorisa/Iyalorisa se dirigem no começo do Ipade, uma das mais importantes cerimônias do ritual afro-descendente religioso:
E Inã mojuba
Inã Inã Mojuba Aiye
Inã mojuba
Inã Inã Mojuba Aiye...etc.
Outra forma de se dirigir a Esu, e que causa certa confusão, é quando seus acólitos a ele se dirige por seus EPITETOS que , por serem mais comuns, transformaram-se erroneamente em nomes: Exemplo;
Esu Tiriri
Esu Akesan
Esu Lode
Esu Barabo
Esu Alaketu
Esu Ijelu
Esu Bara lajiki
Esu Marabo...etc.
DA PEDRA A PEDRA
A ação repressiva dos cristãos europeus e, posteriormente, latino-americanos sobre os africanos, escravos e seus descendentes forjou o sincretismo entre os Orisa e os Santos Católicos.
Consequentemente, Esu e o diabo cristão na sua forma mais primitiva, teologicamente.
Assim sendo, a idéia de um Esu reelaborado pelos cristãos e, essencialmente maléfico e tenebroso, é inconcebível na Teologia e na cosmovisão Yoruba, que não tem um "inferno´" declarado, e os homens não são punidos a post mortem.
Muito embora, existam lendas e mitos populares onde Esu é retratado como manhoso, trapaceiro ou encrenqueiro. Se Esu for reverenciado com o Ebo designado nada disso será verdadeiro e a sua suposta imagem de malignidade, decorrente dessas lendas, cairá por terra.
Na verdade, Esu é o Executor Divino, punindo aqueles que descumprem o sacrifício prescrito, recompensando aqueles que o fazem.
Ele nada faz por conta própria. Está sempre servindo de elemento de ligação entre OLORUN e Orunmila ou então servindo aos Orisa.
Segundo a Teologia Yoruba, nenhum ser divino pode punir um Ara aiye "ser da terra", diretamente, sem a consulta a Olodunmarê.
Diversos Itan Ifa nos dão conta que Esu também é encarregado por OLORUN para vigiar os Orisa no Aiye. Isso só pode ser feito porque ele é imparcial no seu papel de Executor Divino.
É por isso que todos os devotos de todos os Orisa sacrificam para Esu, por recomendação de Ifa, nos tempos de dificuldades, buscando dessa forma sua intermediação com Olodunmarê.
E, para que os Babalawo não se excedam ou mintam na prescrição dos ébó, o próprio Esu na qualidade de Odusó sempre estará presente no jogo, cuidando para que o Iwa "caráter" do consulente e do Babalawo não sejam maculados.
Esu reporta-se diretamente a OLORUN e mantém um inter-relacionamento com os Orisa e com os Egungun "ancestrais".
Ele não é vingativo e nada executa por sua própria conta, apenas cumpre fielmente as ordens de OLORUN, conforme os ditames do Iwa contido no Ori individual, destino escolhido por cada Ori no Ipori Orun `Lugar em que o ser humano é preparado.
E necessário, o mais depressa possível, esquecer, "desumbandizar" e "deskardekizar" as religiões de matriz africanas, pois não se pode viver com o paradigma de bem e mal, inexistente nessas religiões.
Em síntese, transmutar, teologicamente, a pedra primordial em pedra angular sobre a qual se sustenta a cosmografia tradicional Yoruba.
Oga Gilberto de Esu
Ésú Akérèkóro
Nome civil: Gilberto A Ferreira
Nome religioso: Oga Gilberto de ESU
Olosun do Ile Iya Mi Osun Muiywa
Presidente do Conselho de ética do International Congress of Orisa and Culture.
Pesquisador da Tradição Yoruba.
Articulista e consultor de assuntos afro-brasileiro para diversos órgãos nacionais e internacionais, com artigos publicados no Brasil e exterior.
Presidente fundador do Afosé Ile Omo Dadá (SP).
Consultor de assuntos Afro-Brasileiros para a Fundação Palmares.
DIFERENTES ORIGENS DE EXU
(CECAA Centro de Estudos da Cultura Afro Americana)
Diferentes origens de Exu são narradas em diversos itans de Ifá. Uma delas, que determina a ligação existente entre Exu e Orunmilá, contida no Odu Ogbehunle, conta que:
Quando Olodumare e Obatalá estavam começando a criar o ser humano, criaram, antes, a Exu. Tendo visto Exu na casa de Obatalá, Orunmilá demonstrou o desejo de possuir um, mas foi-lhe recomendado que voltasse um mês mais tarde porque tudo o que vira estava ainda em fase experimental. Inconformado, Orunmilá insistiu tanto que Obatalá resolveu atender à sua vontade, orientando-o para que pusesse as mãos sobre a cabeça de Exu e que, voltando para casa, fizesse sexo com sua mulher. Tudo foi feito de acordo com a orientação de Obatalá e, doze meses depois, Yebìirú, mulher de Orunmilá, deu à luz um filho do sexo masculino e porque Obatalá dissera que a criança seria Alágbára (Senhor do Poder), Orunmilá resolveu chamá-lo de Elégbára. Logo que seu pai pronunciou seu nome, a criança começou a chorar e a dizer: Iyá, iyá, ng o je eku - (Mãe, mãe, eu quero comer preás). Ouvindo os apelos de seu filho, a mãe respondeu de imediato: Omo naa jeé! - Filho, come, come! Omo l'okùn, - Um filho é como contas de coral vermelho, Omo ni de - Um filho é como cobre, Omo ni jìngìndìnrìngìn, Um filho é como uma alegria inextinguível, A mu se yì, mù s'òrun - Uma honra apresentável, que nos Ara eni. - nos representará depois da morte. O relato se estende mostrando como Exu, servido por sua mãe, devorou todos os quadrúpedes, aves e peixes e, não tendo mais nenhum animal sobre a face da terra, engoliu a própria mãe. Assustado com o ocorrido, Orunmilá consultou o oráculo e lhe foi recomendado fazer um ebó composto de uma espada, um bode e quatorze mil caurís. Feita a oferenda, Orunmilá aproximou-se de Exu, que não parava de chorar e de gritar. "Bàbá, bàbá, ng ò je ó ó! " (Pai, pai, eu quero comê-lo!) - berrou o menino. Orunmilá, então, cantou a canção da mãe de Exu e quando este se aproximou para devorá-lo, atacou-o com a espada do ebó. Exu foi então cortado em duzentos pedaços e cada pedaço transformava-se num novo yanguí, num novo Exu. A perseguição se estendeu pelos nove oruns e, em cada um deles, Exu era seccionado em duzentas partes e cada uma delas se transformava num novo yanguí. No último orun, depois de ser novamente retalhado, Exu propôs um pacto a Orunmilá: Cada Yanguí seria uma representação sua e Orunmilá poderia consultá-los e mandá-los executar trabalhos sempre que fosse necessário. Orunmilá, então, perguntou-lhe por tudo o que havia devorado, inclusive sua mãe, e Exu respondeu:
"Òrúnmìlá kí o maa kési oun bí ó bá féé gba gbogbo àwon nkan bi eran ati eye tí òun ó máà ràn án lówó láti gbà padà fún láti owo àwon Omo aràyé".
(Orunmilá deveria chamá-lo se ele queria recuperar a todos e cada um dos animais e das aves que ele tinha comido sobre a terra; ele (Exu) os assistiria para reavê-los das mãos dos seres humanos).
O que a lenda ensina é que Exu é um só subdividido em incontáveis partes e desta forma, todos os seres humanos, animais e vegetais, assim como os próprios orixás possuem os seus Exus individuais. Exu é o comunicador, o intermediário, o policial, o juiz e o carrasco e, da mesma forma que castiga os malfeitores, premia aqueles que agem corretamente. Exu é, portanto, a divindade de maior atuação no contexto religioso do candomblé. Exu resulta da interação Obatalá-Oduduwa e como o primeiro elemento procriado seria a personalização da energia que reúne os átomos, possibilitando a diferenciação da matéria a partir de uma essência única. Ele é o grande transformador, o comunicador, o intermediário entre os homens e as divindades e entre estas e o supremo criador. O termo "Esu" pode ser traduzido como esfera. Elegbara é um dos títulos honoríficos de exú que significa: "aquele que possui poder ilimitado", e bara, elegba e legba são sinônimos ou corruptelas desta palavra. Ambos os termos se referem ao orixá exu, do qual se desconhece a existência de uma manifestação ou de um aspecto feminino. Exu é sempre masculino e seus símbolos são fálicos. As estatuetas que o representam possuem sempre um grande pênis em permanente estado de ereção. Èsú, Elégbára, Elégba ou ainda Légba, seriam os nomes pelos quais é conhecido este poderoso Orixá, o primeiro criado por Obatalá e Oduduwa, tendo Ogun como irmão mais novo. O culto de Exu é muito individual. Cada indivíduo, assim como cada coisa possui o seu Legba, podendo, portanto, edificar o seu assentamento, onde poderá cultuá-lo e apaziguá-lo. Por sua importância e atributos, Exu é sempre o primeiro a ser homenageado e cultuado em todos os procedimentos ritualísticos. Seu caráter é ambíguo e faz o mal ou o bem de acordo com sua própria conveniência. A atitude do africano diante desta divindade é de profundo respeito devido ao seu poder de atuação sobre a vida e a morte, o sucesso e o fracasso, a riqueza e a miséria, de acordo com as determinações de Olodumare, de quem é o executor de ordens. Por este motivo, todos os seguidores da religião procuram estar bem com ele, evitando desagradá-lo para não se exporem à sua ira. Exu possui muitos nomes ou títulos honoríficos. Dentre estes destacamos:
LOGEMO ORUN: Indulgente filho do céu.
A N'LA KA'LU: Aquele cuja grandiosidade se manifesta em plena praça.
PÁPÁ WÀRÀ: Aquele que apressadamente, faz com que as coisas aconteçam de repente.
A TÚKÁ MA SE SA: O que ele quebra em pequenos pedaços jamais poderá ser reconstituído.
Exu possui muitos emblemas, como a laterita, imagens de madeira ou de barro sempre encimadas por uma lâmina ou ponta afiada, bastões fálicos, etc... O Orixá Exu é o único dentre todos os demais, que tem seu campo de ação ilimitado, podendo atuar em todos os níveis da existência universal, permitindo por este motivo, que seja classificado tanto como Funfun como também como Ebora, tamanho é o seu poder de agir livremente. Exu é um só, embora possa manifestar-se de diversas e diferentes formas, sempre de acordo com a função que esteja exercendo, o papel que esteja desempenhando. Deus dos desvalidos, protetor de ladrões, arruaceiro, saltimbanco e mágico por excelência, assim é Exu, que só é coerente com sua própria incoerência e cuja fúria se aplaca com facilidade, mas que não conhece o perdão nem a piedade. Exu pode fazer as coisas mais incríveis e este seu atributo se exprime em trechos de seus orikís, conforme cita Pierre Verger.
Exu faz o erro virar acerto e o acerto virar erro.
É numa peneira que ele transporta o azeite que compra no mercado e o azeite não escorre desta vasilha.
Ele matou um pássaro ontem, com uma pedra que só hoje atirou. Se ele se zanga, pisa nessa pedra e ela põe-se a sangrar. Aborrecido, ele senta-se na pele de uma formiga. Sentado, sua cabeça bate no teto; de pé, não atinge nem mesmo a altura do fogareiro.
Na África existem relatos históricos sobre a existência de um personagem chamado Èsú Obasin que teria sido um dos acompanhantes de Oduduwa quando de sua chegada a Ifé. Segundo Epega, este personagem viria, mais tarde, a ser coroado rei de Ketu sob o nome de Èsú Alákétu. Como Orixá, Exu é o guardião das cidades, das casas, dos templos e das pessoas, servindo também, de intermediário entre os homens e os deuses. Na África, assim como no Brasil e em Cuba, nada se faz sem que antes, oferendas lhes sejam feitas, antes mesmo de qualquer outro Orixá. Exu é representado, entre os yorubás, por uma pedra chamada Yanguí, por uma cabeça ou corpo humano modelados em barro com olhos, ouvidos e bocas marcados por búzios, por pequenas estatuetas de madeira enfeitada com fieiras de búzios ou por simples símbolos fálicos, como o ogó, bastão de madeira que porta sempre e que lhe atribui o poder de deslocar-se rapidamente para pontos distantes. Os elégun de Èsú, na Nigéria, recebem o nome de "OLÚPÒNA", participam das cerimônias em louvor aos demais Orixás e, em Holi, dançam nas cerimônias realizadas a cada quatro dias em honra a Ogun. Nestas cerimônias, os oluponan dançam carregando nas mãos os seus ogós. No ex-Dahome, entre os fon, Exu tem o nome de Légba e é representado por um monte de barro endurecido com a forma de um homem acocorado, sempre dotado de um falo de tamanho exagerado. Os légbas guardiães dos templos, manifestam-se através dos légbasi (filhos de legba), título equivalente ao Oluponan Yoruba. Os legbasis vestem-se com uma saia de ráfia tingida de roxo debaixo da qual trazem, oculto, um enorme falo de madeira que levantam, de vez em quando, de forma erótica. Entre os fon, existem diversos Legbas ou diferentes manifestações de um mesmo Vodun, que recebem os seguintes nomes e características:
Asi-Légba: O Legba dos mercados e feiras.
Agbonosu (Rei do portal): Representado por uma pequena escultura em barro colocado nas portas de entrada. É um Legba individual.
To-Légba: Protetor de uma cidade ou aldeia. É um Legba coletivo.
Zãgbeto-Légba: Protetor dos caçadores noturnos. Segundo se afirma, possui cornos.
Hun-Légba: Defensor dos templos. É Legba individual de cada Vodun.
Légba Agbãnukwe: O que fala no jogo de búzios. Corresponde a Èsú Akesan. É o protetor, servidor e executor de Ifá. É ele que recebe os sacrifícios determinados por Ifá e deve ser sempre servido em primeiro lugar. Não existe nenhuma diferença de atribuições de Agbonosu e Agbãnukwe. Se o primeiro protege a casa contra a possível entrada de malefícios, o segundo, que deve permanecer num quarto dentro de casa, protege contra a negatividade dos próprios habitantes da mesma.
Certos signos de Ifá tais como Ofun Meji, Ogbe-Fun, Oxetura e Ofun-Yeku, exigem que seja feito um assentamento muito especial, denominado Légba Jobiona, onde os dois Legbas citados são cultuados em conjunto com a função de proteger a casa e toda a sua periferia. Este Legba excepcional exige obís de tantos quantos o visitem. Segundo a tradição nagô, somente os grandes Babalaôs podem possuí-lo. Algumas informações indicam a existência de um Legba com quatro cabeças, denominado Légba Aóvi, surgido do Odu Jaga, nome dado aos Odus Oxe-Irete e Irete-Oxe, signos cujos nomes não devem ser pronunciados em decorrência da grande carga de negatividade de que são portadores. Um outro nome usado para mencionar estes Odus é Gadeglido.
No Brasil, por influência do cristianismo, esta magnífica entidade foi comparada ao diabo e, deste sincretismo, criou-se a imagem de Exu provida de rabo e chifres, portando tridentes e por vezes dotado de asas como as dos morcegos. Nas práticas umbandistas encontramos um outro tipo de manifestação de espíritos aos quais, talvez por influência do sincretismo com o Diabo, convencionou-se dar o nome de Exú. Estas entidades, que se apresentam sob diversas denominações tais como, Marabô, Tranca-Ruas, Veludo, Caveira, Pomba Gira, Maria Padilha, Molambo, etc., são na verdade, eguns, que se manifestam em seus médiuns para cumprirem as missões que lhes foram impostas, da mesma forma que outras que se identificam como pretos velhos, caboclos, boiadeiros, ciganos, etc.
É necessário que se saiba a diferença entre Exú-Orixá e estes outros tipos de entidades que não se encontram na mesma categoria hierárquica e que devem ser tratados e reverenciados de forma diferente e específica. Independente de não serem Orixás, estes seres espirituais possuem força e poder para resolverem problemas e prestarem auxílio a tantos quantos a eles recorram. O fato de Exu ser sincretizado com o diabo não serve, no entanto, de motivo para que cause grande terror entre os adeptos que sabem que, uma vez tratado convenientemente, servirá de protetor trabalhando para o bem. Todavia, o sincretismo faz com que poucas pessoas sejam consagradas a este Orixá. As oferendas de Exu são, geralmente, entregues nas encruzilhadas e que ele gosta de comer galos e bodes, de preferência pretos, assim como farofas de dendê e outros pratos preparados com este óleo, embora se saiba que Exu come de tudo, com exceção de um óleo denominado àdi extraído dos cocos existentes dentro dos caroços de dendê. Exu aprecia ainda, oferendas compostas de bebidas alcoólicas e charutos. No Brasil, seu colar é composto de contas pretas e vermelhas alternadas uma a uma ou de sete em sete. Assim como na África, suas oferendas são entregues antes de qualquer Orixá, e, antes de cada festa ritualística é preceituado numa cerimônia denominada "Ipadê" termo que, em Yoruba, significa "reunião". Na Bahia, afirma-se existirem 21 Exus dos quais destacamos os seguintes: Exu Alaketu, Exu Laalu, Exu Ijelu, Exu Akesan, Exu Lonan, Exu Agbô, Exu Barabô, Exu Inan, Exu Tiriri e Exu Odara. Em Cuba, da mesma forma que no Brasil, Exu também foi sincretizado com o Diabo embora, lá, o Culto de Orunmilá tenha melhor preservado a verdadeira identidade do Orixá. O caráter ambíguo de Exu, assim como o seu poder ilimitado é plenamente reconhecido pelos adeptos cubanos, tanto no âmbito da santeria como também em Ifá. Os babalaôs cubanos afirmam existirem cerca de duzentas qualidades de Exu ou Elleguá - como o chamam - oriundas dos 256 Odu-Ifá, explicando que, o Exu individual de cada pessoa será sempre aquele que vier através de seu Odu pessoal. Dentre as muitas "qualidades" de Exu cultuadas entre os cubanos destacamos alguns que relacionamos a seguir com seus atributos específicos:
Laroye - Revolucionário e guerreiro.
Arayeyi - Porteiro de Olófin.
Ileloya - É o guardião das praças, seu habitat.
Laalu - O senhor dos quatro caminhos.
Marilaye - Possui quatro bocas e quatro olhos.
Ogunilebe - Anda nas estradas e provoca acidentes.
Laje - Vive num caramujo aje.
Obasinlaye - Acompanha Oduduwa.
Lode - Protetor do lado de fora da casa.
Wenke - Aquele que fala a verdade e a mentira.
Kakosa - Possui duas caras viradas em sentidos opostos.
Aloba - Vive no alto da montanha.
Oniburu - Acompanhante de Orixá Oko.
Egbasama - É maligno.
Alimu - Ajuda Oya no controle dos Eguns.
_Os fios e contas de Exu em Cuba são inteiramente negros existindo variações de acordo com algumas "qualidades". Inúmeros itans de Ifá coletados em Cuba narram as aventuras de Exu, ao mesmo tempo em que ressaltam aspectos de seu caráter.
ESU - ELEGBARA
No maravilhoso panteão africano existem centenas de entidades espirituais, objeto de culto dos seguidores das religiões africanas. Todos esses deuses representam manifestações diferenciadas de um Deus supremo, Olodumare, e se encontram divididos em duas hierarquias distintas. Os orixás Funfun ou orixás do branco, pertencentes a mais alta escala hierárquica, teriam participado da criação do universo, conhecido e desconhecido, seu número é incalculável, como desconhecidos são, na maior partes das vezes, seus nomes e funções.
Numa hierarquia imediatamente abaixo, encontram-se os Ebóras, os mais conhecidos e cultuados pelos seres humanos em decorrência de sua maior proximidade. Estas entidades estão relacionadas aos elementos naturais, aos fenômenos e manifestações da natureza, como também aos reinos mineral, animal e vegetal. Acessam e influenciam também os planos sutis de existência, como o etérico, o astral, o mental, etc.
Desta forma, pertencem a categoria mais elevada orixás como OBATALÁ, ORUNMILÁ, ODUDUWA, OXAGUIAN, OXALUFAN, BABÁ AJALÁ, além de muitos outros, enquanto que os mais conhecidos e cultuados como OGUN, XANGÔ, OXÓSSI, OXUN, YEMANJÁ, IYANSAN, etc., fazem parte do grupo de Ebóras, embora recebam, também, a denominação de orixás.
Apesar da perfeita distinção hierárquica, nenhum deles é tão importante, tão poderoso e ao mesmo tempo tão injustiçado quanto Exú.
Desde o primeiro contato com os seguidores do culto aos orixás, os missionários cristãos, reconhecendo o grande poder e a enorme influência exercida por Exú sobre os povos aos quais pretendiam dominar pela imposição de suas religiões, trataram de desmoralizar esta entidade e a única forma que encontraram para isso foi associá-lo à execrável figura do seu próprio demônio.
A concepção de um ser inteiramente mau era, para o negro africano, absolutamente inexistente. O mal e o bem se confundiam e sua distinção ficava dependendo da posição ocupada por cada um diante de um acontecimento qualquer. O que era mal para um, poderia representar o benefício de outro e vice-versa.
A prática de maldades era atribuída à certas entidades possuidoras do poder da feitiçaria, denominadas AJÉS e que, independente de sua ação quase sempre maléfica, podiam também praticar o bem, sempre que isto lhes aprouvesse.
Quando o culto se estabeleceu nas Américas a confusão já estava estabelecida, muito embora os seguidores do verdadeiro candomblé tenham a plena consciência de que Exú não é o diabo cristão e nada tem a ver com aquela figura maléfica.
Com o surgimento da umbanda, a confusão tornou-se ainda maior. Determinadas entidades espirituais, dotadas de características próprias e "modus operandis" semelhantes, foram confundidas com Exú, quando na verdade são espíritos desencarnados, eguns, que através das manifestações mediúnicas visam cumprir missões que não me cabe explicar.
Não existe Exú fêmea e o Exú de qualquer orixá, seja este masculino ou feminino, será sempre um Exú orixá e, portanto, masculino.
As chamadas pomba giras, assim como os denominados Exús cultuados na umbanda e que, como já foi anteriormente dito, são na realidade eguns, não podem, portanto, ser cultuados como Bara individual de ninguém e, muito menos, assentados como Exús de qualquer orixá.
A verdadeira importância de Exú deve ser resgatada e seu status, enquanto Orixá, revelado, muito embora isto possa provocar tensões entre numerosos segmentos de adeptos, tanto da Umbanda, quanto do Candomblé.
Todavia, é necessário que se esclareça quem é Exú na realidade, e principalmente, qual a sua importância, não só na manutenção de toda a estrutura filosófica do culto, como também no que se refere à existência de todas as formas de vida manifestadas a nível material e espiritual.
EXÚ é, na realidade, um orixá de altíssima hierarquia e muitos são os seus atributos, podendo mesmo ser considerado como o alicerce sobre o qual se apóia todo o nosso sistema religioso.
É Exú quem transporta as oferendas destinadas à qualquer orixá e até mesmo à Iyámi Ajé e, nesta função recebe o nome de ÈSÙ OJISÉ ELÉBÓ.
Com o titulo de ELERU, assume a função de patrono do carrego e é ele quem transporta todas as restituições à terra em forma de oferendas feitas pelos homens.
No orí de cada indivíduo, Exú está associado ao destino e ao Iporí de cada um como o seu Exú ou Bara Pessoal. Está ligado, ainda, à boca e ao estômago, lugares por onde passam os alimentos e ai destaca-se sua função de ENUGBARIJÓ, a boca coletiva ou boca do mundo.
Ogum é o primogênito na constelação dos orixás, mas exu é o primogênito do universo, o primeiro procriado na interação dos dois princípios distintos de Olodumare: OBATALÁ E ODUDUWA.
Este é ÈSÙ AGBÀ, o Exu Ancestre, também chamado de ÈSÙ YANGÍ.
Yanguí, a representação mais importante de exu, é assim saudado nos terreiros: ÈSÙ YANGI OBA BABA ÈSÙ = EXU YANGUÍ, REI-PAI DE TODOS OS EXUS.
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Diferentes origens de Exu são narradas em diversos itans de Ifá e uma delas, que determina a ligação existente entre Exu e Orunmilá, contida no Odu Ogbehunle, conta que "... quando Olodumare e Obatalá estavam começando a criar o ser humano, criaram, antes, a Exu. Tendo visto Exu na casa de Obatalá, Orunmilá demonstrou o desejo de possuir um, mas foi-lhe recomendado que voltasse um mês mais tarde porque tudo o que vira estava ainda em fase experimental".
Inconformado, Orunmilá insistiu tanto que Obatalá resolveu atender à sua vontade, orientando-o para que pusesse as mãos sobre a cabeça de Exu e que, voltando para casa, fizesse sexo com sua mulher. Tudo foi feito de acordo com a orientação de Obatalá e, doze meses depois, Yebìirú, mulher de Orunmilá, deu à luz um filho do sexo masculino e porque Obatalá dissera que a criança seria Alágbára (Senhor do Poder), Orunmilá resolveu chamá-lo de Elégbára.
Logo que seu pai pronunciou seu nome, a criança começou a chorar e a dizer:
IYÁ, IYÁ, NG O JE EKU - (Mãe, mãe, eu quero comer preás).
Ouvindo os apelos de seu filho, a mãe respondeu de imediato:
OMO NAA JEÉ! - Filho, come, come!
OMO L'OKÙN, - Um filho é como contas de coral vermelho,
OMO NI DE, - Um filho é como cobre,
OMO NI JÌNGÌNDÌNRÌNGÌN. - Um filho é como uma alegria inextinguível,
A MU SE YÌ, MÙ S'ÒRUN - Uma honra apresentável, que nos.
ARA ENI. - nos representará depois da morte.
O relato se estende mostrando como Exu, servido por sua mãe, devorou todos os quadrúpedes, aves e peixes e, não tendo mais nenhum animal sobre a face da terra, engoliu a própria mãe.
Assustado com o ocorrido, Orunmilá consultou o oráculo e lhe foi recomendado fazer um ebó composto de uma espada, um bode e quatorze mil caurís. Feita a oferenda, Orunmilá aproximou-se de Exu, que não parava de chorar e de gritar.
"BÀBÁ, BÀBÁ, NG Ò JE Ó Ó! "
(Pai, pai, eu quero comê-lo!)
- berrou o menino. Orunmilá, então, cantou a canção da mãe de Exu e quando este se aproximou para devorá-lo, atacou-o com a espada do ebó. Exu foi então cortado em duzentos pedaços e cada pedaço transformava-se num novo Yanguí, num novo Exu.
A perseguição se estendeu pelos nove oruns e, em cada um deles, Exu era seccionado em duzentas partes e cada uma delas se transformava num novo yanguí.
No último orun, depois de ser novamente retalhado, Exu propôs um pacto a Orunmilá: Cada Yanguí seria uma representação sua e Orunmilá poderia consultá-los e mandá-los executar trabalhos sempre que fosse necessário.
Orunmilá, então, perguntou-lhe por tudo o que havia devorado, inclusive sua mãe, e Exu respondeu:
ÒRÚNMÌLÁ KÍ O MAA KÉSI OUN BÍ Ó BÁ FÉÉ GBA GBOGBO ÀWON NKAN BI ERAN ATI EYE TÍ ÒUN Ó MÁÀ RÀN ÁN LÓWÓ LÁTI GBÀ PADÀ FÚN LÁTI OWO ÀWON OMO ARÀYÉ.
(Orunmilá deveria chamá-lo se ele queria recuperar a todos e cada um dos animais e das aves que ele tinha comido sobre a terra; ele (Exu) os assistiria para reavê-los das mãos dos seres humanos).
O que a lenda ensina é que Exu é um só subdividido em incontáveis partes e desta forma, todos os seres humanos, animais e vegetais, assim como os próprios Orixás possuem os seus Exus individuais. Ele é o comunicador, o intermediário, o policial, o juiz e o carrasco e, da mesma forma que castiga os malfeitores, premia aqueles que agem corretamente.
Exú é, portanto, a divindade de maior atuação no contexto religioso do Candomblé.
Resultado da interação Obatalá-Oduduwa é o primeiro elemento procriado que, esotericamente, seria a personalização da energia que reúne os átomos, possibilitando a diferenciação da matéria a partir de uma essência única. É o grande transformador, o comunicador, o intermediário entre os homens e as Divindades e entre estas e o Supremo Criador. O termo "Esú" pode ser traduzido como esfera.
Elegbara é um dos títulos honoríficos de Exú que significa: "Aquele que possui poder ilimitado", e Bara, Elegba e Legba são sinônimos ou corruptelas desta palavra.
Ambos os termos se referem ao Orixá Exú, do qual se desconhece a existência de uma manifestação ou de um aspecto feminino. Exú é sempre masculino e seus símbolos são fálicos. As estatuetas que o representam possuem sempre um grande pênis em permanente estado de ereção.
Èsú, Elégbára, Elégba ou ainda Légba, seriam os nomes pelos quais é conhecido este poderoso Orixá, o primeiro criado por Obatalá e Oduduwa, tendo Ogun como irmão mais novo.
O culto de Exú é muito individual: cada indivíduo, assim como cada coisa possui o seu Legba, podendo, portanto, edificar o seu assentamento, onde poderá cultuá-lo e apaziguá-lo.
Os Odu-Ifá que falam exclusivamente de Legba são Odi-Gundá, Gunda-Di e Odi-Turukpon.
Por sua importância e atributos, Exú é sempre o primeiro a ser homenageado e cultuado em todos os procedimentos ritualísticos. Seu caráter é ambíguo e faz o mal ou o bem de acordo com sua própria conveniência.
A atitude do africano diante desta divindade é de verdadeiro pavor, devido ao seu poder de atuação sobre a vida e a morte, o sucesso e o fracasso, a riqueza e a miséria, de acordo com as determinações de Olodumare, de quem é o executor de ordens. Por este motivo, todos os seguidores da religião procuram estar bem com ele, evitando desagradá-lo para não se exporem à sua ira.
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"BI Á BÁ RÚBO, KI Á MÚ T'ÈSÚ KURO"
(Quando qualquer sacrifício é oferecido, a parte que cabe à Exú deve ser depositada diante dele).
Esta regra deve ser sempre observada porque desta forma evita-se que, com atitudes maliciosas, Exú venha a ocasionar contratempos e confusões de todos os tipos.
Numa das mais importantes louvações de Exú, encontramos a expressão "ÈSÚ, OTÁ ÒRISÁ" - "Exú, o adversário dos Orixás" - o que reafirma os constantes problemas existentes entre eles, ocasionados pela disputa do poder e da autoridade.
Entre os muitos nomes ou títulos honoríficos de Exú, destacamos:
Logemo orun: Indulgente filho do céu.
A n'la ka'lu: Aquele cuja grandiosidade se manifesta em plena praça.
Pápá Wàrà: Aquele que apressadamente, faz com que as coisas aconteçam de repente.
A túká ma se sa: O que ele quebra em pequenos pedaços jamais poderá ser reconstituído.
Exú possui muitos emblemas, como a laterita, imagens de madeira ou de barro sempre encimadas por uma lâmina ou ponta afiada, bastões fálicos, etc...
O Orixá Exú é o único dentre todos os demais, que tem seu campo de ação ilimitado, podendo atuar em todos os níveis da existência universal, permitindo por este motivo, que seja classificado tanto como Funfun como também como Ebora, tamanho é o seu poder de agir livremente.
Exú é um só, embora possa manifestar-se de diversas e diferentes formas, sempre de acordo com a função que esteja exercendo, o papel que esteja desempenhando.
Deus dos desvalidos, protetor de ladrões, arruaceiro, saltimbanco e mágico por excelência, assim é Exú, que só é coerente com sua própria incoerência e cuja fúria se aplaca com facilidade, mas que não conhece o perdão nem a piedade.
Exu pode fazer as coisas mais incríveis e este seu atributo se exprime em trechos de seus orikís, conforme cita Pierre Verger:
Exu faz o erro virar acerto e o acerto virar erro.
É numa peneira que le transporta o azeite que compra no mercado; o azeite não escorre desta vasilha.
Ele matou um pássaro ontem, com uma pedra que só hoje atirou.
Se ele se zanga, pisa nessa pedra e ela põe-se a sangrar.
Aborrecido, ele senta-se na pele de uma formiga.
Sentado, sua cabeça bate no teto; de pé, não atinge nem mesmo a altura do fogareiro.
Exu na África.
Na África existem relatos históricos sobre a existência de um personagem chamado Èsú Obasin que teria sido um dos acompanhantes de Oduduwa quando de sua chegada a Ifé.
Segundo Epega, este personagem bem viria, mais tarde, a ser coroado rei de Ketu sob o nome de Èsú Alákétu.
Como Orixá é o guardião das cidades, das casas, dos templos e das pessoas, servindo também, de intermediário entre os homens e os deuses.
Na África, assim como no Brasil e em Cuba, nada se faz sem antes, oferendas lhes selam feitas, antes mesmo de qualquer outro Orixá.
Exu é representado, entre os yorubás, por uma pedra chamada YANGUÍ, por uma cabeça ou corpo humano modelados em barro com olhos, ouvidos e bocas marcados por búzios, por pequenas estatuetas de madeira enfeitada com fieiras de búzios ou por simples símbolos fálicos, como o ogó, bastão de madeira que porta sempre e que lhe atribue o poder de deslocar-se rapidamente para pontos distantes.
Os elégun de Èsú, na Nigéria, recebem o nome de OLÚPÒNA, participam das cerimônias em louvor aos demais Orixás e, em Holi, dançam nas cerimônias realizadas a cada quatro dias em honra a Ogun. Nestas cerimônias, os oluponan dançam carregando nas mãos os seus ogós.
No ex-Dahome, entre os fon, tem o nome de Légba e é representado por um monte de barro endurecido com a forma de um homem acocorado, sempre dotado de um falo de tamanho exagerado.
Os légbas guardiães dos templos, manifestam-se através dos légbasi (filhos de legba), título equivalente ao Oluponan yoruba.
Os legbasis vestem-se com uma saia de ráfia tingida de roxo debaixo da qual trazem, oculto, um enorme falo de madeira que levantam, de vez em quando, de forma erótica.
Entre os fon, existem diversos Legbas ou diferentes manifestações de um mesmo Vodun, que recebem os seguintes nomes e características:
Asi-Légba: O Legba dos mercados e feiras.
Agbonosu (Rei do portal): Representado por uma pequena escultura em barro colocado nas portas de entrada. É um Legba individual.
To-Légba: Protetor de uma cidade ou aldeia. É um Legba coletivo.
Zãgbeto-Légba: Protetor dos caçadores noturnos. Segundo se afirma, possui cornos.
Hun-Légba: Defensor dos templos. É Legba individual de cada Vodun.
Légba Agbãnukwe: O que fala no jogo de búzios. Corresponde a Èsú Akesan. É o protetor, servidor e executor de Ifá. É ele que recebe os sacrifícios determinados por Ifá e deve ser sempre servido em primeiro lugar. Não existe nenhuma diferença de atribuições de Agbonosu e Agbãnukwe. Se o primeiro protege a casa contra a possível entrada de malefícios, o segundo, que deve permanecer num quarto dentro de casa, protege contra a negatividade dos próprios habitantes da mesma.
Certos signos de Ifá tais como Ofun Meji, Ogbe-Fun, Oxetura e Ofun-Yeku, exigem que seja feito um assentamento muito especial, denominado Légba Jobiona, onde os dois Legbas citados são cultuados em conjunto, com a função de proteger a casa e toda a sua periferia. Este Legba excepcional exige obís de tantos quantos o visitem. Segundo a tradição nagô, somente os grandes Babalaôs podem possuí-lo.
Possuímos ainda informações da existência de um Legba com quatro cabeças, denominado Légba Aóvi, surgido do Odu Jaga (nome dado aos Odus Oxe-Irete e Irete-Oxe, signos cujos nomes não devem ser pronunciados em decorrência da grande carga de negatividade de que são portadores, um outro nome usado para mencionar estes Odus, é Gadeglido).
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EXU NO BRASIL
No Brasil, por influência do cristianismo, esta magnífica entidade foi comparada ao diabo e, deste sincretismo, criou-se a imagem de Exú provida de rabo e chifres, portando tridentes e por vezes dotado de asas como as dos morcegos.
Nas práticas umbandistas encontramos um outro tipo de manifestação de espíritos aos quais, talvez por influência do sincretismo com o Diabo, convencionou-se dar o nome de Exú.
Estas entidades, que se apresentam sob diversas denominações tais como, Marabô, Tranca-Ruas, Veludo, Caveira, Pomba Gira, Maria Padilha, Molambo, etc., são na verdade, eguns, que se manifestam em seus médiuns para cumprirem as missões que lhes foram impostas, como também a outras que se identificam como pretos velhos, caboclos, boiadeiros, ciganos, etc.
É necessário que se saiba a diferença entre Exú-Orixá e estes outros tipos de entidades, que não se encontram na mesma categoria hierárquica e que devem ser tratados e reverenciados de forma diferente e específica, mas que, independente de não serem Orixás, possuem força e poder para resolverem problemas e prestarem auxílio a tantos quantos a eles recorram.
O fato de Exu ser sincretizado com o diabo, não serve, no entanto, de motivo para que cause grande terror entre os adeptos que sabem que, uma vez tratado convenientemente, servirá de protetor, trabalhando para o bem.
Todavia, o sincretismo faz com que poucas pessoas sejam consagradas a este Orixá.
Suas oferendas são, geralmente, entregues nas encruzilhadas e gosta de comer galos e bodes, de preferência pretos, assim como farofas de dendê e outros pratos cozidos com este óleo, embora se saiba que Exu come de tudo, com exceção de um óleo denominado àdi, extraído dos cocos existentes dentro dos caroços de dendê.
Exu aprecia ainda, oferendas com postas de bebidas alcoólicas e charutos.
No Brasil, seu colar é composto de contas pretas e vermelhas alternadas uma a uma ou de sete em sete.
Assim como na África, suas oferendas são entregues antes de qualquer Orixá, e, antes de cada festa ritualística é preceituado numa cerimônia denominada "padê" termo que, em yoruba, significa "reunião".
Na Bahia afirma-se existirem 21 Exus dos quais destacamos os seguintes:
Exu Alaketu, Exu Láàlú, Exu Ijelu, Exu Àkesán, Exu Lonan, Exu Agbô, Exu Barabô, Exu Inan, Exu Tiriri e Exu Odara.
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EXU NO CARIBE
Em Cuba, da mesma forma que no Brasil, Exu também foi sincretizado com o Diabo embora, lá, o Culto de Orunmilá tenha melhor preservado a verdadeira identidade do Orixá.
O caráter ambíguo de Exu, assim como o seu poder ilimitado é plenamente reconhecido pelos adeptos cubanos, tanto no âmbito da santeria com também em Ifá.
Os babalaôs cubanos afirmam existirem cerca de duzentas qualidades de Exu ou Eleguá como o chamam, oriundas dos 256 Odu-Ifá, explicando que, o Exu individual de cada pessoa será sempre aquele que vier através de seu Odu pessoal.
Dentre as muitas "qualidades" de Exu cultuadas entre os cubanos destacamos alguns que relacionamos a seguir com seus atributos específicos:
Laroye - Revolucionário e guerreiro.
Arayeyi - Porteiro de Olófin.
Ileloya - É o guardião das praças, seu habitat.
Laalu - O senhor dos quatro caminhos.
Marilaye - Possui quatro bocas e quatro olhos.
Ogunilebe - Anda nas estradas e provoca acidentes.
Laje - Vive num caramujo aje.
Obasinlaye - Acompanha Oduduwa.
Lode - Protetor do lado de fora da casa.
Wenke - Aquele que fala a verdade e a mentira.
Kakosa - Possui duas caras viradas em sentidos opostos.
Aloba - Vive no alto da montanha.
Oniburu - Acompanhante de Orixá Oko.
Egbasama - É maligno.
Alimu - Ajuda Oya no controle dos Eguns.
Os fios e contas de Exu em Cuba são inteiramente negros existindo variações de acordo com algumas "qualidades".
Inúmeros itans de Ifá coletados em Cuba narram as aventuras de Exu, ao mesmo tempo em que ressaltam aspectos de seu caráter.
Apresentamos, aqui, um destes contos, constante de um trabalho a ser publicado em breve
_ __A CABEÇA DO CARANGUEJO.
Quando o mundo foi criado, nenhum animal possuía cabeça.
Entretanto, Olofin havia prometido que um dia, todos seriam aquinhoados com cabeças, mas, como se tratasse de um número muito grande de pretendentes, não havia previsão de data para a entrega. A verdade é que todos andavam muito ansiosos pelo momento de poderem desfilar exibindo belas cabeça, dotadas, segundo se dizia, de olhos, boca, orelhas e tudo o mais que compõe uma boa e verdadeira cabeça.
Naquela época o caranguejo era um bom adivinho e vivia desta atividade. Todos os bichos da região eram seus clientes e ele orgulhava-se de jamais haver falhado numa previsão.
O caranguejo cultuava Exu, de quem era muito íntimo e com quem dividia, de bom grado, tudo o que recebia na sua função de adivinho. Desta forma, mantinha-se sempre, muito bem informado de tudo o que acontecia, tanto no Aye, quanto no Orun.
Sabemos, com certeza, que era Exu quem sustentava o dom de adivinhar do caranguejo.
Um belo dia, logo pela manhã, Exu foi à casa do amigo para lhe dar, em primeira mão, a grande e tão esperada notícia: no dia seguinte Olodumare, que já não agüentava mais tanta reclamação, distribuiria cabeças entre os animais. Havia, no entanto, um pequeno problema: o número de cabeças existentes não era suficiente para atender a demanda toda e, por este motivo, aqueles que chegassem por último ao Orun, continuariam acéfalos.
- "Não contes a ninguém o que te estou revelando. Trata de chegar primeiro e assim poderás escolher a melhor cabeça que estiver disponível. Depois podes espalhar a notícia entre todos". Disse Exu ao caranguejo.
Ora, como já sabemos, o caranguejo zelava muito bem por sua fama de adivinho e assim, não se sabe se por força de ofício ou por simples vaidade, logo que Exu foi embora, saiu batendo de porta em porta,

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