quinta-feira, 17 de setembro de 2015

a importancia da galinha dangola

"Se não houver galinha dangola, não há iniciação".
Contam os nagôs igbominas (ìgbómìnàs) em solo brasileiro, que após o fechamento do portal, que separava o planeta Terra (àiyé) do infinito (Sánmà)
"Oxênibuomi" (Ose nibú omi Òsun nas profundezas das águas dos rios) recebeu de Olodumarê (Olódùmarè) a incumbência de escolher entre os seres humanos, o mais forte, o mais virtuoso e inteligente dos homens, ser este, que deveria ser investido na função de sacerdote (aborè).
Destacou-se entre eles o belo e intrépido jovem que atendia pelo nome de Nipamóuacam (Nipa mówà
kan Aquele que é capaz de compreender e vascular os corações). Tão logo fora feita a escolha, Oxum (Òsun) providenciou para que o escolhido adquiriu-se todos os conhecimentos necessários a pratica da liturgia e suas ritualísticas.
Alguns anos depois, Oxum foi comunicada que o Irunmólé Icú (Ìrúnmólè Ìkú) viria buscar Nipamóuacam apesar dele ainda ser jovem. Desesperada Oxum recorre a Orunmilá (Òrunmìlà) na tentativa de afastar do seu sacerdote a terrível sina que se aproximava. Foi com pesar que Orunmilá reportou-se a Oxum dizendo:
O que pedes é impossível. A determinação de Olodumarê diz que: Os seres humanos voltarão ao pó de onde vieram, suas almas retornarão ao infinito para prestarem contas dos seus atos. Sei que este jovem é teu protegido e que tu o amas também apesar da proibição. Desejo carnal esse, que a motivou retardar a ordenação sacerdotal do mesmo até a data. Infelizmente, o Icú O Senhor dos Mortos virá buscá-lo no momento exato determinado pelo seu destino.
Desesperada Oxum suplica:
Orunmilá, poupe a mim e a todos os que são inteiramente seres humanos desta triste tragédia. Ajude-me a transformar o grande amor da minha vida num ser que possa voltar ao planeta Terra após a morte, mesmo que seja somente em espírito. Orunmilá disse-lhe: Retornes daqui a quatro dias minha filha, irei interceder por ti e por todos junto a Olodumarê. Transcorrido os quatro dias, Oxum ainda em desespero retorna a Orunmilá na expectativa da solução do impasse da morte de Nipamóuacam.
Diante de Orunmilá, Oxum em prantos se ajoelha e suplica:
Então, meu pai, conseguistes junto a Olodumarê uma solução, uma trégua, enfim, responde-me, por favor?Orunmilá, olhando carinhosamente para Oxum, pronuncia-se: Levanta-te minha filha, Olodumarê, nosso Deus e Senhor foi benevolente para contigo e para com os habitantes da terra (ará-àiyé). Será criada uma morte aparente para Nipamóuacam (Nipa mówàkan), entretanto, para que tal fato se concretize, tu que és semimortal deverás providenciar em grande estilo a purificação e consagração do teu sacerdote. Deverás proceder de acordo com os ritos determinados afim de que o corpo de Nipamóuacam, após a morte, seja transformado numa ave, animal este, que será absoluto, insubstituível e único nas iniciações e consagrações dos futuros neófitos. Será também, a partir desta data, o símbolo da união dos homens com os ancestrais deificados (ebora).
Oxum preparou imediatamente o local da iniciação e consagração de conformidade com as normas e ritos que lhe foram transcritas, transformando Nipamóuacam no primeiro altar vivo da nossa religião. No dia seguinte da iniciação e consagração, tão logo os primeiros raios de sol surgiram no Leste anunciando a presença do Criador, Oxum apresentou Nipamóuacam aos quatro cantos de adoração do universo, e ao ser colocado no centro do local onde fora consagrado, sobrevoou no infinito o pássaro Ogomugomu (pássaro de rara beleza não existe similar no Brasil) que, ao pousar sobre a cabeça de Nipamóuacam, salpicou-o totalmente com um pó de cor branca (efun).
Pouco tempo depois, conforme havia sido previsto, Ìkú
Senhor dos Mortos devolveu a terra o corpo de Nipamóuacam e o seu espírito foi levado à presença de Elérin Ipim (Elérin Ìpin - A Testemunha do destino) no Ilê-éjó Ocam (Ilé-Ejó Okan Tribunal das Almas) para prestar contas dos seus atos na Terra. O local onde o sacerdote foi enterrado conforme determinação de Oxenibúomi (Ose nibú omi) transformou-se num pequeno bosque sagrado e pouco tempo depois, neste mesmo local, surgiu uma ave de penas negras, mescladas com pintas brancas, possuindo a parte superior da cabeça azulada e sem penas, e no centro da mesma, um cone formado pela sua própria estrutura. Esta ave recebeu dos nagôs iorubas o nome de Étú (Etú’ – galinha dangola).
Esclarecimentos: O mito acima narrado elucida a obrigatoriedade da
"etú" (galinha dangola) em toda iniciação e consagração dos neófitos da Religião dos Orixás, uma vez que a aludida ave é absoluta, insubstituível é única na sagração dos omoerrin (omo-ehin - aprendiz, noviço) que são os oniiawô (oníyàwó esposo, noivo, recém-casado) e as iiauô (ìyáwó esposa, noiva, recém-casada) dos orixás e ancestres deificados. Tal obrigatoriedade e ratificado em um ditado ioruba que diz:
"Ko si etú, ko si múwolé". (Co si étú, co si muuólê)
"Se não houver galinha dangola, não há iniciação".

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