sábado, 5 de novembro de 2016

VODUNS ORIXAS E INKISSIS

Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, os cultos dessesVoduns só cresceram no antigo Dahomé. Muitos desses Voduns não se fundiramcom os orixás nagôs e desapareceram totalmente. O culto da serpente Dãng-bi éum exemplo, pois ele nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até as Antilhas.Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-se a classificação do povo da terra, ou os Voduns Caviunos, que seriam osVoduns Azanssu, Nanã e Bessem. Temos, também, o Vodun chamado Ayzain(pronuncia-se Aizãn) que vem da nata da terra. Este é um Vodun que nasce emcima da terra. É o Vodun protetor da Azan, onde Azan quer dizer "esteira", emJeje. Achamos em outro dialeto Jeje, o dialeto Gans-Crus, também o termo Zeninou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os Voduns da terra encontramosLoko. Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso,também está na família Caviuno, porque Loko é árvore sagrada; é a gameleirabranca, que é uma árvore muito importante na nação Jeje. Seus filhos sãochamados de Lokossis. Agué, Azaká é também um vodun Caviuno. A família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho deSogbô, chamado de Runhó. Mawu-Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbôtambém tem particularidade com o Orixá em Yorubá, Xangô, e ainda com o filhomais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é filho de Ague e irmãode Anaite. Anaite seria uma outra família que viria da família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobossys que viriam a ser as Yabás dos Yorubás, achamos assim AziriTobossy. Estou falando do Jeje de um modo geral, não especificamente doMahín, mas das famílias que englobam o Mahín e também outras famílias Jeje.Como foi relatado, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade,esta família, ou seja, os que pertencemos a esta nação deveriam ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon seria a nossaverdadeira denominação. Nós seríamos povos Ewe ou povos Fons. Então, sefôssemos pensar em alguma possibilidade de mudança, nós iríamos nos chamar,ao invés de nação Jeje, de nação Ewe-Fon. Somente assim estaríamos fazendo jus ao que é encontrado em solo africano. Jeje é então um apelido, mas assimficamos para todas as nossas gerações classificados como povo Jeje, emrespeito aos nossos antepassados.Continuando com algumas nomenclaturas da palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa de candomblé da nação Jeje chama-se Kwe = "casa". A casamatricial em Cachoeira de São Félix chama-se Kwe Ceja Undê. Toda casa Jejetem que ser situada afastada das ruas, dentro de florestas, onde exista espaçocom árvores sagradas e rios. Depende das matas, das cachoeiras e depende deanimais, porque o Jeje também tem a ver com os animais. Existem até cultoscom os animais tais como, o leopardo, crocodilo, pantera, gavião e elefante quesão identificados com os Voduns. Então, este espaço sagrado, este grande sítio,esta grande fazenda onde fica o Kwe chama-se Runpayme, que quer dizer

"fazenda" na língua Ewe-Fon. Sendo assim, a casa chama-se Kwe e o local ondefica situado o candomblé, Runpayme. No Maranhão predomina o culto àsdivindades como Azoanador e Tobosses e vários Voduns onde a "sacerdotisa" échamada Noche ou Doné e o cargo masculino, Toí Voduno ou ainda Doté.
FUNDADORES
Voltando a falar sobre "Kwe Ceja Undê", esta casa como é chamada emCachoeira de São Félix de "Roça de Baixo" foi fundada por escravos comoManoel Ventura, Tixerem, Zé do Brechó e Ludovina Pessoa.Ludovina Pessoa era esposa de Manoel Ventura, que no caso africano é o donoda terra. Eles eram donos do sítio e foram os fundadores da Kwe Ceja Undê.Essa Kwe ainda seria chamada de Posehen (pronuncia-se Pozerren), que vemde Kipó, "pantera".Darei um pequeno relatório dos criadores do Posehen Tixarene que seria oprimeiro Pejigãn da roça; e Ludovina, pessoa que seria a primeira Gaiacú. A roça de cima que também é em Cachoeira é oriunda do Jeje Dahomé, ou seja,uma outra forma de Jeje. Estou falando do Mahin, que era comandada por SinháRomana que vinha a ser "Irmã de santo" de Ludovina Pessoa (esta última maistarde assumiria o cargo de Gaiacú na Kwe de Boa Ventura). Mas, pela ordemtemos Manoel Ventura, que seria o fundador, depois viria Sinhá Pararase, SinháBalle e atualmente Gamo Lokossi. O Kwe Ceja Undê encontra-se emcontrovérsia, ou seja, Gamo Lokossi é escolhida por Sinhá Pararase para ser averdadeira herdeira do trono e Gaiacú Aguéssi, que seria Elisa Gonçalves deSouza, vem a ser a dona da terra atualmente. Ela pertence a família Gonçalves,os donos da terra. Assim, temos os fundadores da Kwe Ceja Undê.Aqui, no Rio de Janeiro, saindo de Cachoeira de São Félix, Tata Fomutinhodeu obrigação com Maria Angorense, conhecida como Kisinbi Kisinbi (angola), ou Ahum Simi Simi (Jeje), como querem outros. Uma das curiosidades encontradasdurante minha pesquisa sobre Jeje é o que chamamos de Deká, que na verdadevem do termo idecar, do termo fon iidecar, que quer dizer "transmissão desegredo". Esse ritual é feito quando uma Gaiacú passa os segredos da naçãoJeje para futura Gaiacú pois, na nação Jeje não se tem notícias, que possa ter havido "Pai de santo". O cargo de sacerdotisa ou "Mãe de santo" eraexclusivamente das mulheres. Só as mulheres poderiam ser Gaiacús

OGAN
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é oprimeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer "Senhor que zela peloaltar sagrado", porque Peji = "altar sagrado" e Gan = "senhor". O segundo é oRuntó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run,Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há tambémoutros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc.Podemos ver que a nação Jeje é muito particular em suas propriedades. Éuma nação que vive de forma independente em seus cultos e tradições de raízesprofundas em solo africano e trazida de forma fiel pelos negros ao Brasil.
JEJE MINA
Em 1796, foi fundado no Maranhão o culto Mina Jeje pelos negros fonsvindos de Abomey, a então capital de Dahomé, como relatei anteriormente, atualRepública Popular de Benin.A família real Fon trouxe consigo o culto de suas divindades ancestrais,chamados Voduns e,principalmente, o culto à Dan ou o culto da SerpenteSagrada.Uma grande Noche ou Sacerdotisa, posteriormente, foi Mãe Andresa, últimaprincesa de linhagem direta Fon que nasceu em 1850 e morreu em 1954, com104 anos de vida. Aqui, alguns nomes dos Deuses Voduns:*Ayzan - Vodun da nata da terra*Sogbô - Vodun do trovão da família de Heviossô*Aguê - Vodun da folhagem*Loko - Vodun do tempo
Os Vodunsis da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que dafamília de Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexofeminino, de Doné.Os cumprimentos ou pedidos de bençãos entre os iniciados da família deDan seria "Megitó Benoí?" Resposta: "Benoí"; e aos iniciados da família Kaviuno,ou seja, Doté e Doné seria "Doté Ao?" Resposta: "Aótin".O termo usado "Kolofé", cuja resposta é "Kolofé, Olorun Kolofé" vem dafusão das Nações de Jeje e de Ketu.

A Nação Ketu
..."Várias mulheres enérgicas e voluntariosas, originárias de Ketu, antigasescravas libertas, pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte daIgreja da Barroquinha, teriam tomado a iniciativa de criar um terreiro decandomblé chamado Iya Omi Axé Airá Intilé, numa casa situada na Ladeira doBerquó, hoje rua Visconde de Itaparica, próxima à Igreja da Barroquinha......Os nomes destas mulheres são eles mesmos controversos. Duas delaschamadas Iyalussô Danadana e Iyanassô Akalá, segundo alguns, auxiliadas por um certo Babá Assiká, saudado como Essá Assiká no Padê, teriam sido asfundadoras do terreiro Axé Airá Intilé. Iyalusso Danadana, segundo consta,regressou à Africa e lá morreu. Iyanassô teria, pelo seu lado, viajado para Ketu,acompanhada de Marcelina da Silva. Não se sabe, exatamente, se esta era suafilha de sangue, ou filha espiritual - quer dizer, iniciada por ela no culto dos Orixás- ou, ainda, se tratava de uma prima sua. As opiniões sobre o assunto sãodivergentes e tornam-se objeto de eruditas discussões, estando, porém, todos deacordo em declarar que seu nome de iniciada era Obatossí.Marcelina-Obatossí fez-se acompanhar nesta viagem por sua filhaMadalena. Após sete anos de permanência em Kétu, o pequeno grupo voltouacrescido de duas crianças que Madalena tinha tido na África e grávida de umaterceira, Claudiana, que será, por sua vez, mãe de Maria Bibiana do EspíritoSanto, Mãe Senhora, Oxunmiwá......O terreiro fundado por trás da Barroquinha mudou-se por diversas vezese, após haver passado pelo Calabar, Baixa de São Lázaro, instalou-se sob onome de Ile Iyanassô, no local onde ainda hoje se encontra, sendo familiarmentechamado de Casa Branca do Engenho Velho, no qual Marcelina- Obatossítornou-se Mãe de Santo, após a morte de Iyanassô” (Vide Notas Sobre Cultos deOrixás e Voduns da Bahia – Verger, Pierre Fatumbi)Pelo descrito pelos babalorixás e Yalorixás ancestrais, teria sido esta aprimeira casa de candomblé de Kétu estabelecida no Brasil, tendo dela surgidooutras como o Iya Omi Axé Iya-Massê (Gantois) e Centro Cruz Santa do Axé deOpô Afonjá.

A Nação Angola
Pelo sul do domínio kongoles, entre o curso do Dande (rio), e as águas doLonga (rio), e a partir da costa até o rio Kuango, estendiam-se os Ambundu.Incluem os povos que formaram o antigo reino de Angola, concentrando-se nasterras da Matamba onde tomaram o nome de Ambundu, que quer dizer vencedor. Angola foi descoberta em 1486, pelo navegador português Diogo Cão, e estásituada na costa ocidental da África.O conquistador de Ndongo, nome do primeiro reino, chamava-se NgolaNzinga ia Nku. Um chefe vassalo do Kongo e descendente em terceira geraçãodo Mani Kongo (rei), Nimi ia Lukeni. O qual conquistou a região, erigiu em reinodando-lhe o seu nome ou título, que é documentado em português já no início doséc. XVI.Destas invasões ambundu do vale Kambo, alcançando Matamba, o chefeJaga Ngola Nzinga ia Nku, conquistou terras de Ndongo, que vieram a constituir o Reino de Angola, onde mais tarde, a rainha Tumba ia Ngola, casou-se com ogrande guerreiro e autoridade divina Ngola Kiluanji Kiá Samba, cujo nome édado ao País até hoje.O grupo Ambundu hoje denominado Kimbundu, é em realidade, um grupolingüístico constituído por Dembo, Ngola Mahungo, Njinga, Holo, Bondo, Bangala,Songo, kisama, Libolo, Muako, Musende, Xinji, Kavungo e Minungu, sendo estasduas ultimas tribos, originárias do velho grupo Luanda-Kioko. A língua Kikongo, prolonga-se até o noroeste da Luanda junto a Kuango,na tribo Musuku, parente dos Kongoleses no sangue e na cultura, existindo umaafinidade muito forte com o Kimbundu. (A Matamba era chamada de Kitamba,que quer dizer braseiro. Como os que cultuavam a divindade guerreira, Kitamba,viviam em uma terra de muitas guerras, passaram a chama-la de Matamba, ouseja este nome foi originado de Kitamba)

Iniciação no candomblé Kétu
O sacerdócio e organização dos ritos para o culto dos Orixás sãocomplexos, com todo um aprendizado que administra os padrões culturais detranse, pelo qual os deuses se manifestam no corpo de seus iniciados durante ascerimônias para serem admirados, louvados, cultuados. Os iniciados, filhos efilhas-de-santo (yawo, em linguagem ritual), também são popularmentedenominados "cavalos dos deuses" uma vez que o transe consiste basicamenteem mecanismo pelo qual cada filho ou filha se deixa cavalgar pela divindade, quese apropria do corpo e da mente do iniciado, num modelo de transe inconscientebem diferente daquele do kardecismo, em que o médium, mesmo em transe,deve sempre permanecer atento à presença do espírito. O processo de setransformar num "cavalo" é uma estrada longa, difícil e cara, cujos estágios na"nação" Ketu podem ser assim sumariados: Para começar, a mãe-de-santo devedeterminar, através do jogo de búzios, qual é o Orixá dono da cabeça daqueleindivíduo (Braga, 1988). Ele ou ela recebe então um fio de contas sacralizado,cujas cores simbolizam o seu Orixá, dando-se início a um longo aprendizado queacompanhará o mesmo por toda a vida. A primeira cerimônia privada a que anoviça (abiãn) é submetida consiste num sacrifício votivo à sua própria cabeça(borí), para que a cabeça possa se fortalecer e estar preparada para algum diareceber o Orixá no transe de possessão.Para se iniciar como cavalo dos deuses, a abiãn precisa juntar dinheirosuficiente para cobrir os gastos com as oferendas (animais e ampla variedade dealimentos e objetos), roupas cerimoniais, utensílios e adornos rituais e demaisdespesas suas, da família-de-santo, e eventualmente de sua própria famíliadurante o período de reclusão iniciática em que não estará, evidentemente,disponível para o trabalho no mundo profano.Como parte da iniciação, a noviça permanece em reclusão no terreiro por um número em torno de 21 dias. Na fase final da reclusão, uma representaçãomaterial do Orixá do iniciado (assentamento ou igbá-Orixá) é lavada com umpreparado de folhas sagradas trituradas (abô). A cabeça da noviça é raspada epintada, assim preparada para receber o Orixá no curso do sacrifício entãooferecido (orô). Dependendo do Orixá, alguns dos animais seguintes podem ser oferecidos: cabritos, ovelhas, pombas, galinhas, galos, caramujos. O sangue éderramado sobre a cabeça da noviça, no assentamento do Orixá e no chão doterreiro, criando este sacrifício um laço sagrado entre a noviça, o seu Orixá e acomunidade de culto, da qual a mãe-de-santo é a cabeça. Durante a etapa dascerimônias iniciáticas em que a noviça é apresentada pela primeira vez àcomunidade, seu Orixá grita seu nome, fazendo-se assim reconhecer por todos,completando-se a iniciação como Yawo (iniciada jovem que "recebe" Orixá). OOrixá está pronto para ser festejado e para isso é vestido e paramentado, elevado para junto dos atabaques, para dançar, dançar e dançar.No candomblé sempre estão presentes o ritmo dos tambores, os cantos, a dançae a comida (Motta, 1991). Uma festa de louvor aos Orixá (toque) sempre seencerra com um grande banquete comunitário (ajeum, que significa "vamos

comer"), preparado com carne dos animais sacrificados. O novo filho ou filha-de-santo deverá oferecer sacrifícios e cerimônias festivas ao final do primeiro,terceiro e sétimo ano de sua iniciação. No sétimo aniversário, recebe o grau desenioridade (Ûgbïnmi, que significa "meu irmão mais velho"), estando ritualmenteautorizado a abrir sua própria casa de culto. Cerimônias sacrificiais são tambémoferecidas em outras etapas da vida, como no vigésimo primeiro aniversário deiniciação. Quando o Ûgïnmi morre, rituais fúnebres (axêxê) são realizados pelacomunidade para que o Orixá fixado na cabeça durante a primeira fase dainiciação possa desligar-se do corpo e retornar ao mundo paralelo dos deuses(Îrun) e para que o espírito da pessoa morta (egún) liberte-se daquele corpo, pararenascer um dia e poder de novo gozar dos prazeres deste mundo.
Ritual e ética
O candomblé opera em um contexto ético no qual a noção judáico-cristãde pecado não faz sentido. A diferença entre o bem e o mal dependebasicamente da relação entre o seguidor e seu deus pessoal, o Orixá. Não há umsistema de moralidade referido ao bem-estar da coletividade humana, pautando-se o que é certo ou errado na relação entre cada indivíduo e seu Orixá particular. A ênfase do candomblé está no rito e na iniciação, que, como se viu brevemente,é quase interminável, gradual e secreta. O culto demanda sacrifício de sangueanimal, oferta de alimentos e vários ingredientes. A carne dos animais abatidosnos sacrifícios votivos é comida pelos membros da comunidade religiosa,enquanto o sangue e certas partes dos animais, como patas e cabeça, órgãosinternos e costelas, são oferecidas aos Orixás. Somente iniciados têm acesso aestas cerimônias, conduzidas em espaços privativos denominados quartos-de-santo. Uma vez que o aprendizado religioso sempre se dá longe dos olhos dopúblico, a religião acaba por se recobrir de uma aura de sombras e mistérios,embora todas as danças, que são o ponto alto das celebrações, ocorram sempreno barracão, que é o espaço aberto ao público.

A Música
As celebrações de barracão, os toques, consistem numa seqüência dedanças, em que, um por um, são honrados todos os Orixás, cada um semanifestando no corpo de seus filhos e filhas, sendo vestidos com roupas decores específicas, usando nas mãos ferramentas e objetos particulares a cadaum deles, expressando-se em gestos e passos que reproduzem simbolicamentecenas de suas biografias míticas. Essa seqüência de música e dança, sempre aosom dos tambores (chamados rum, rumpí e lê) é designada xirê, que em yorubásignifica "vamos dançar". O lado público do candomblé é sempre festivo, bonito,esplendoroso, esteticamente exagerado para os padrões europeus e extrovertido.Para o grande público, desatento para o difícil lado da iniciação, ocandomblé é visto como um grande palco em que se reproduzem tradições afro-brasileiras igualmente presentes, em menor grau, em outras esferas da cultura,como a música e a escola de samba. Para o não iniciado, dificilmente se concebeque a cerimônia de celebração no candomblé seja algo mais que um eternodançar dos deuses africanos
Seguidores e clientes
O candomblé atende a uma grande demanda por serviços mágico-religiosos de uma larga clientela que não necessariamente toma parte emqualquer aspecto das atividades do culto. Os clientes procuram a mãe ou pai-de-santo para o jogo de búzios, o oráculo do candomblé, através do qual problemassão desvendados e oferendas são prescritas para sua solução. O cliente pagapelo jogo de búzios e pelo sacrifício propiciatório (ebó) eventualmenterecomendado. O cliente em geral fica sabendo qual é o Orixá dono de suacabeça e pode mesmo comparecer às festas em que se faz a celebração de seuOrixá, podendo colaborar com algum dinheiro no preparo das festividades,embora não sele nenhum compromisso com a religião. O cliente sabe quasenada sobre o processo iniciático e nunca toma parte nele. Entretanto, ele temuma dupla importância: Antes de mais nada, sua demanda por serviços ajuda alegitimar o terreiro e o grupo religioso em termos sociais. Segundo, é da clientelaque provém, na maioria dos terreiros, uma substancial parte dos fundosnecessários para as despesas com as atividades sacrificiais. Comumente,sacerdotes e sacerdotisas do candomblé que adquirem alto grau de prestígio nasociedade inclusiva gostam de nomear, entre seus clientes, figuras importantesdos mais diversos segmentos da sociedade.Devotos das religiões afro-brasileiras podem cultuar também outrasentidades que não os Orixás africanos, como os caboclos (espíritos de índiosbrasileiros) e encantados (humanos que teriam vivido em outras épocas e outrospaíses). Durante o transe ritual, os caboclos conversam com seus seguidores eamigos, oferecendo conselhos e fórmulas mágicas para o tratamento de todos ostipos de problemas. A organização dos panteões de divindades africanas nosterreiros varia de acordo com cada nação de candomblé (Santos, 1992; M.Ferretti, 1993). Caboclos e pretos-velhos (espíritos de escravos) são centrais naumbanda, em que estas entidades têm papel mais importante no cotidiano dareligião do que os próprios Òrìñà.


III: Comportamento humano como herança dos Orixás
Segundo o candomblé, cada pessoa pertence a um deus determinado, queé o senhor de sua cabeça e mente e de quem herda características físicas e depersonalidade. É prerrogativa religiosa do pai ou mãe-de-santo descobrir estaorigem mítica através do jogo de búzios. Esse conhecimento é absolutamenteimperativo no processo de iniciação de novos devotos e mesmo para se fazeremprevisões do futuro para os clientes e resolver seus problemas. Embora na Áfricahaja registro de culto a cerca de 400 Orixás, apenas duas dezenas delessobreviveram no Brasil. A cada um destes cabe o papel de reger e controlar forças da natureza e aspectos do mundo, da sociedade e da pessoa humana.Cada um tem suas próprias características, elementos naturais, cores simbólicas,vestuário, músicas, alimentos, bebidas, além de se caracterizar por ênfase emcertos traços de personalidade, desejos, defeitos, etc. Nenhum Orixá é neminteiramente bom, nem inteiramente mau. Noções ocidentais de bem e mal estãoausentes da religião dos Orixás no Brasil. E os devotos acreditam que os homense mulheres herdam muitos dos atributos de personalidade de seus Orixá, demodo que em muitas situações a conduta de alguém pode ser espelhada empassagens míticas que relatam as aventuras dos Orixás. Isto evidentementelegitima, aos olhos da comunidade de culto, tanto as realizações como as faltasde cada um.

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